Atuação trans na política: “A população transexual precisa lutar para que os direitos conquistados não sejam retirados”, avalia Lucci Laporta

Para esta data de luta, que é o Dia da Visibilidade Trans, o Distrito Drag entrevistou a ativista Lucci Laporta, que é travesti e bissexual organizada na TRAFEM – coletiva TRAfeminista e no PSOL. Ela é também assistente social e assessora parlamentar no mandato do deputado distrital Fábio Felix. Lucci  é coordenadora da Comissão de Ética e Direitos Humanos do Conselho Regional de Serviço Social (Cress-DF). Na entrevista, ela chama a atenção para graves problemas enfrentados pela população trans no DF, como o sucateamento dos equipamentos públicos voltados à essa parcela da sociedade. Ela considera também que vivemos uma conjuntura regressiva para os direitos humanos e sociais das pessoas trans. Leia a entrevista completa. 

Por Fred Leão
Assessor de imprensa
Lambada Comunicação

Lucci Laporta, travesti e bissexual organizada na TRAFEM – coletiva TRAfeminista e no PSOL

Uma de suas áreas de atuação é a política institucional. Como você avalia a atual conjuntura? A que pé está a luta pelos direitos da população trans neste meio?

No cenário atual, tanto a nível nacional, quanto no DF, a gente está numa conjuntura regressiva. A população trans, que é numericamente minoritária e muito marginalizada, precisa lutar para que os direitos conquistados não sejam retirados. A gente tem, dentro dos movimentos sociais uma visibilidade maior e nossas pautas, pouco a pouco, são tratadas com mais prioridade. Tivemos nas últimas eleições votações muito expressivas para pessoas trans que se candidataram Brasil afora. Isso é importante pra mostrar que a nossa luta tem tido mais alcance. 

Paralelamente a isso, temos sofrido ameaças. Nos últimos dias, a co-vereadora Carolina Iara (PSOL-São Paulo), que é travesti, negra e intersexo foi ameaçada de morte e teve a sua casa alvejada por tiros numa intimidação muito perigosa. A vereadora Érika Hilton (PSOL-São Paulo) tem sofrido ameaças dentro da Câmara de Vereadores. A vereadora Beni Briolli (PSOL-Niterói) e Duda Salabert (PDT- Belo Horizonte) também têm sido ameaçadas e isso mostra que os nossos inimigos estão muito fortalecidos pelo ódio do bolsonarismo. Vivemos uma conjuntura muito difícil para os direitos humanos e para as conquistas sociais da população trans.

 

Quais os principais desafios que a comunidade trans enfrenta a nível local no DF e Entorno?

No DF, temos como problema a desvalorização dos equipamentos públicos voltados à proteção da população LGBTQI+. O Ambulatório Trans, por exemplo, não tem ainda profissionais o suficiente para atender a demanda. Faltam vários serviços que são fundamentais para o processo de transição de muitas pessoas trans, como cirurgias e hormonizações. Até mesmo a polícia especializada fica numa região distante e só funciona de segunda a sexta. O [Centro de Referência Especializado em Assistência Social] Creas da Diversidade também está sucateado e tem poucos servidores para o atendimento à comunidade LGBTQI+. Outro problema é a falta de unidades de acolhimento para a população trans que vive em situação de rua ou para quem acabou expulso de casa, o que faz com que essas pessoas dependam de ajuda de voluntários.

 

Você considera que ainda há um longo caminho de conscientização dentro da comunidade LGBTQI+ sobre as pautas das pessoas trans? Como é tentar furar a bolha para fora da própria comunidade?

Ainda temos um caminho longo para que a comunidade LGBTQI+ entenda as especificidades das pessoas trans, que são bastante diversas entre si. Não se trata de uma identidade homogênea. Acredito que, junto aos aliados, estamos conseguindo furar a bolha e que, assim, o movimento LGBTQI+ dê mais visibilidade e reconheça a necessidade de protagonismo para as pessoas trans. Precisamos que a nossa luta chegue mais ao Poder Executivo e Legislativo, que as nossas pautas cheguem ainda mais ao debate do Judiciário de maneira mais avançada. As políticas de gênero precisam ser voltadas não apenas para as mulheres cis e sim pra todas as pessoas que sofrem violência de gênero, como homens e mulheres trans, travestis, pessoas não binárias e até mesmo a homens gays cis.

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